A
política e a mágica são a mesma arte de iludir o público: o que
se mostra o distrai para ocultar o que se faz sumir.
Por
Klauber Cristofen Pires
Uma reportagem
ufanista divulgada pela Agência Brasil que comemora a entrega do
navio Celso Furtado à Transpetro explora a política de
nacionalização da construção de navios e anuncia o triunfal
número de 60 mil empregos no setor. Motivo para comemorarmos?
De
acordo com a reportagem, “A presidenta Dilma Rousseff voltou a
dizer, no início da tarde de hoje (25), no Rio de Janeiro, que o
Brasil não vai exportar empregos. “Estamos conseguindo garantir
emprego e não vamos permitir que se exporte emprego para fora.”.
Muita
calma nessa hora! Como diz o adágio dos austríacos, o que você vê
esconde o que você não vê...
Segundo o título
da matéria, o navio Celso Furtado foi o primeiro a ser construído
totalmente no Brasil. Como oficial mercante, manifesto minha total
desconfiança de que isto seja verdade, vez que há inúmeros
equipamentos que devem ser importados, haja vista a inexistência de
similares no Brasil. Ainda com relação aos equipamentos similares
que porventura existam, há os que são mais caros, tecnologicamente
defasados e de má qualidade.
Em praticamente
nenhum lugar do mundo algum país lança mão de uma produção
absolutamente nacional. Nem nos Estados Unidos, um país com uma
logística invejável. Isto porque simplesmente é antieconômico.
Retornemos ao
passado, para acompanharmos a história da Embraer, que malgrado o
elogiável esforço dos governos militares, não conseguia “decolar”
(perdoem-me, mas não resisti à metáfora), por conta da então
vigente política de substituição de importações, que a impedia
de adquirir peças e equipamentos importados para o desenvolvimento e
o fabrico de suas aeronaves.
Bastou a revogação
de tão bisonha legislação e a indústria aérea brasileira
tornou-se um verdadeiro motivo de orgulho nacional, oferecendo ao
mercado jatos intermediários de passageiros bastante confiáveis,
silenciosos e baratos, bem como também mui recentemente um jato
cargueiro militar de ponta, o KC-390,
além do já conhecido Super
Tucano, um turbo-hélice extremamente eficiente no combate ao
solo e para a caça de helicópteros e aviões do narcotráfico.
A política de
substituição de importações, em sua versão eletrônica, fez-se
presente por meio da nefasta Lei de Reserva de Mercado da
Informática, de autoria de Luís Henrique da Silveira, do PMDB, uma
geringonça legislativa que nos aprisionou na idade da pedra dos
computadores e softwares. Qualquer pessoa mais ou menos bem informada
sabe perfeitamente que hoje em dia em um pc
certas peças vêm de Taiwan enquanto outras são chinesas e outras
ainda são de origem malasiana ou indonésia ou de qualquer outro
lugar do planeta. A mais eficiente especialização de funções –
graças a Deus – conduziu-nos ao mundo da interdependência.
Manter postos de
trabalho no Brasil à marra torna-se uma vitrine muito bem enfeitada
para o governo populista de Dilma Roussef e de seu antecessor, o
Lula. Entretanto, a lógica econômica racional nos informa que muito
mais do que sessenta mil postos de trabalho podem ter sido perdidos
no Brasil por termos pago mais caro para manter os postos de trabalho
da indústria naval aqui em nossas terras.
O dinheiro a mais
pago pelos brasileiros para sustentar a nacionalização forçada da
indústria naval pode ter faltado ao agrônomo, em Goiás, ou ao
industrial de algum artefato eletrônico em São Paulo, ou ao
empresário da pesca, em Santa Catarina, ou a quem mais se veja
obrigado a pagar mais caro pela gasolina ou pelo óleo diesel em
função do monopólio de que goza a estatal brasileira do petróleo.
Este filme todos já
assistimos e todos sabemos que resultou em um retumbante fracasso.
Como testemunha viva da decadência daquele período, informo aos
meus leitores que os últimos navios eram em geral muito ruins e já
entravam na água tecnologicamente defasados, como resultado da pouca
concorrência que sofriam. Em vários casos, foram construídos com
restos de estoques de massas falidas e sucatas.
Em todo caso, louvo
a escolha do nome Celso Furtado para a embarcação recentemente
entregue pela presidente Dilma Roussef. Não que eu seja um fã
daquele que se notabilizou por sua desastrosa defesa intransigente
da intervenção estatal sobre a economia e que criou o antro de
corrupção que se tornou a Sudene. É porque a homenagem prestada
tem tudo a ver com a atual conjuntura.
Dilma entrega primeiro navio da Petrobras construído inteiramente no Brasil
25/11/2011 - 15h27
Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A presidenta Dilma Rousseff voltou a dizer, no início da tarde de hoje (25), no Rio de Janeiro, que o Brasil não vai exportar empregos. “Estamos conseguindo garantir emprego e não vamos permitir que se exporte emprego para fora. Não vamos permitir porque nosso compromisso é com a grandeza do nosso país e, para um país ser grande, seu povo tem que ter acesso ao emprego”. A declaração foi feita a um grupo de trabalhadores da indústria naval, na cerimônia de entrega do primeiro navio construído no âmbito do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Petrobras.
“Esta cerimônia faz parte de uma luta, que vocês ajudaram muito a travar, mesmo antes de estarem empregados no estaleiro ou antes de estarem sendo beneficiados pelo fato de, no Brasil, termos emprego”, disse Dilma Rousseff, que fez questão de lembrar a crise que a indústria naval brasileira enfrentou ao longo de décadas. “Quando o presidente Lula chegou ao governo, a industria naval estava paralisada”.
O navio Celso Furtado, entregue hoje (25) à Transpetro, subsidiária da Petrobras do setor de logística, é um dos 49 previstos no Promef, criado pela estatal para impulsionar a indústria naval brasileira. “No Brasil, muita gente dizia que dava para crescer, mas que poucos ficariam ricos. [Celso] Furtado disse que crescimento era uma coisa e desenvolvimento era outra, que país só se desenvolvia se o povo crescesse junto”, disse a presidenta, citando o economista e imortal Celso Furtado, cujo nome foi escolhido para batizar o navio.
O Celso Furtado é um navio-tanque com 183 metros de comprimento e capacidade para transportar 56 milhões de litros de combustíveis, como gasolina e óleo diesel.
O Promef é apontado como o principal instrumento da modernização e ampliação da indústria naval brasileira. Três estaleiros já foram construídos para atender à demanda atual e à expectativa de crescimento do setor: o Rio Tietê, em São Paulo, e Atlântico Sul e STX-Promar, em Pernambuco. O programa também é responsável pela retomada do mercado de trabalho do setor. Na virada do século, os poucos estaleiros nacionais que resistiram à crise empregavam pouco mais de 2 mil pessoas. Atualmente, emprega quase 60 mil pessoas, segundo dados da Transpetro. Do total de embarcações projetadas, 41 foram encomendadas, envolvendo investimentos de R$ 9,6 bilhões. Oito navios ainda estão em processo de licitação.
Edição: Vinicius Doria
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