Por Ricardo Bergamini
O Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil avançou de 0,715 em 2010 para 0,718 em 2011,
e fez o país subir uma posição no ranking global do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) deste ano. Com
isso, o Brasil saiu da 85ª para a 84ª posição, permanecendo no grupo dos países
de alto desenvolvimento humano. O documento foi lançado esta quarta-feira (02/10) pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em Copenhague, na Dinamarca.
O Relatório de
Desenvolvimento Humano 2011 apresenta valores e classificações do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) para um número recorde de 187 países e territórios
reconhecidos pela ONU. Um aumento significativo em relação aos 169 países
incluídos no Índice de 2010, quando os indicadores-chave de muitos dos novos
países analisados este ano ainda estavam indisponíveis.
No ranking global do IDH
2010, o Brasil obteve a classificação 73, entre os 169 países. No entanto, é enganoso comparar valores e
classificações do RDH 2011 com os de relatórios publicados anteriormente.
Isto porque, além da inclusão de 18 novos países e territórios (veja a lista ao
final), os dados e métodos sofreram ajustes e algumas mudanças.
Intitulado
“Sustentabilidade e equidade: Um futuro melhor para todos”, o Relatório de
Desenvolvimento Humano 2011 mostra que o Brasil faz parte do seleto grupo de
apenas 36 dos 187 países que subiram no ranking entre 2010 e 2011, seguindo os
dados recalculados para a nova base deste ano. Os outros 151 permaneceram na
mesma posição ou caíram. No caso brasileiro, esta evolução do IDH do ano
passado para este ano contou com um impulso maior da dimensão saúde – medida
pela expectativa de vida –, responsável por 40% da alta. As outras duas
dimensões que compõem o IDH, educação e renda, responderam, cada uma, por cerca
de 30% desta evolução.
Evolução do Brasil nas séries
históricas
A série histórica do
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para o Brasil revela uma retrospectiva
positiva também a médio e a longo prazos. Entre 1980 e 2011, o valor do IDH
subiu 31%, saltando de 0,549 para 0,718. Este desempenho foi puxado pelo
aumento na expectativa de vida no país (11 anos no período), pela melhora na
média de anos de escolaridade (4,6 anos a mais) e pelo crescimento também da
renda nacional bruta (RNB) per capita (quase 40% entre 1980 e 2011).
Por causa dos ajustes de
dados, das adaptações metodológicas e da inclusão de 18 países no ranking deste
ano, as medias anuais de crescimento do IDH só podem ser calculadas com os
dados que estão disponíveis na Tabela 2 “Tendências do Desenvolvimento Humano”
do Relatório, que traz as séries históricas recalculadas para todos os 187
países. Ela tem como base indicadores, metodologia e dados em séries temporais
consistentes e, por isso, mostra as alterações reais dos valores e
classificações no decorrer do tempo, refletindo o progresso verdadeiro feito
pelos países.
Em uma análise de médio
prazo, considerando a evolução de posições do ranking de 2006 a 2011, o Brasil
está entre os 24 países com melhor desempenho, ou seja, aqueles que subiram 3
ou mais posições.
Taxa média de crescimento do
IDH brasileiro
Com base nos dados da
Tabela 2 “Tendências do Desenvolvimento Humano”, verifica-se que a taxa média
de crescimento do IDH do Brasil foi de 0,87%, entre 1980 a 2011. Um desempenho
superior ao da América Latina (0,73%) e ao dos países de alto desenvolvimento
(0,61%), quartil do qual o Brasil faz parte no ranking do IDH 2011.
Avanço semelhante pode ser
visto para o Brasil entre 1990 e 2011, quando a taxa de média de crescimento do
IDH foi de 0,86%, enquanto a da América Latina foi de 0,76% e a dos países de
alto desenvolvimento, de 0,64%.
Num período mais curto de
2000 a 2011, o desempenho foi o seguinte: Brasil avançou 0,69%, América Latina,
0,66%, e os países de alto desenvolvimento, 0,70%.
É importante notar que a
taxa de crescimento para países de desenvolvimento humano muito elevado de 2000
a 2011 foi de 0,33%, ou seja, quanto mais desenvolvido o país se torna, menor é
sua taxa de crescimento do IDH. Este fenômeno é também conhecido como
concavidade de taxas de crescimento.
O IDH é uma medida
resumida para avaliar o progresso a longo prazo em três dimensões básicas do
desenvolvimento humano: uma vida longa e saudável, acesso ao conhecimento e um
padrão decente de vida. Como no Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010,
uma vida longa e saudável é medida pela expectativa de vida; o acesso ao
conhecimento é medido por: i) média de anos de educação de adultos, que é o
número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir
de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade
de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que uma
criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões
prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os
mesmos durante a vida da criança; e o padrão de vida é medido pela Renda
Nacional Bruta (RNB) per capita expressa em PPP$ 2005 constante.
Indicadores complementares
de desenvolvimento humano
Além do IDH calculado para
187 países, o Relatório 2011 traz também três outros indicadores complementares
introduzidos em 2010. São eles o IDH Ajustado à Desigualdade (IDHAD) para 134
países, o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG) para 146 países e o Índice de
Pobreza Multidimensional (IPM) para 109 países.
Índice de Desenvolvimento
Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD)
O IDH é uma medida média
das conquistas de desenvolvimento humano básico em um país. Como todas as
médias, o IDH mascara a desigualdade na distribuição do desenvolvimento humano
entre a população no nível de país. O IDH 2010 introduziu o IDH Ajustado à
Desigualdade (IDHAD), que leva em consideração a desigualdade em todas as três
dimensões do IDH “descontando” o valor médio de cada dimensão de acordo com seu
nível de desigualdade.
Com a introdução do IDHAD,
o IDH tradicional pode ser visto como um índice de desenvolvimento humano
“potencial” e o IDHAD como um índice do desenvolvimento humano “real”. A
“perda” no desenvolvimento humano potencial devido à desigualdade é dada pela
diferença entre o IDH e o IDHAD e pode ser expressa por um percentual.
O IDH do Brasil para 2011
é 0,718. No entanto, quando é descontada a desigualdade do valor, o IDH cai
para 0,519, uma perda de 27,7% devido à desigualdade na distribuição dos
índices de dimensão. O IDHAD, que vem complementar a leitura feita pelo IDH,
mostra que o cidadão brasileiro médio teria quase 30% de risco de não conseguir
alcançar o desenvolvimento humano potencial que o país tem para lhe oferecer em
função dos obstáculos que as desigualdades podem lhe impor.
Nesta área, o Brasil se
insere em um contexto semelhante ao da América Latina, onde a desigualdade – em
especial de renda – faz parte de um passivo histórico que ainda representa um
grande obstáculo para o desenvolvimento humano. Mas o relatório elogia os
esforços e avanços da região na tentativa de reduzir estes números, e faz
menção às conquistas de Argentina, Brasil, Honduras, México e Peru. O Relatório
atribui os avanços, em parte, à melhor cobertura na educação básica e aos
programas de transferência de renda.
Índice de Desigualdade de
Gênero (IDG)
O Índice de Desigualdade
de Gênero (IDG) reflete desigualdades com base no gênero em três dimensões –
saúde reprodutiva, autonomia e atividade econômica. A saúde reprodutiva é
medida pelas taxas de mortalidade materna e de fertilidade entre as
adolescentes; a autonomia é medida pela proporção de assentos parlamentares
ocupados por cada gênero e a obtenção de educação secundária ou superior por
cada gênero; e a atividade econômica é medida pela taxa de participação no
mercado de trabalho para cada gênero.
O IDG substitui os
anteriores Índice de Desenvolvimento relacionado ao Gênero e Índice de
Autonomia de Gênero. Ele mostra a perda no desenvolvimento humano devido à
desigualdade entre as conquistas femininas e masculinas nas três dimensões do
IDG.
O Brasil tem um valor de IDG de 0,449, que o coloca na posição 80 dentre 146 países no índice de 2011. No Brasil, 9,6% dos assentos parlamentares são ocupados por mulheres e 48,8% das mulheres adultas têm alcançado um nível de educação secundário ou superior, em comparação com 46,3% de suas contrapartes masculinas. Para cada 100.000 nascidos vivos, 58 mulheres morrem de causas relacionadas à gravidez; e a taxa de fertilidade entre as adolescentes é de 75,6 nascimentos por 1000 nascidos vivos. A participação feminina no mercado de trabalho é de 60,1%, em comparação com 81,9% para os homens.
Índice de Pobreza
Multidimensional (IPM)
O IDH 2010 introduziu o
Índice de Pobreza Multidimensional (IPM), que identifica privações múltiplas em
educação, saúde e padrão de vida nos mesmos domicílios. As dimensões de
educação e saúde se baseiam em dois indicadores cada, enquanto a dimensão do
padrão de vida se baseia em seis indicadores. Todos os indicadores necessários
para elaborar o IPM para um domicílio são obtidos pela mesma pesquisa
domiciliar.
Os indicadores são
ponderados e os níveis de privação são computados para cada domicílio na
pesquisa. Um corte de 33,3%, que equivale a um terço dos indicadores
ponderados, é usado para distinguir entre os pobres e os não pobres. Se o nível
de privação domiciliar for 33,3% ou maior, esse domicílio (e todos nele) é
multidimensionalmente pobre. Os domicílios com um nível de privação maior que
ou igual a 20%, mas menor que 33,3%, são vulneráveis ou estão em risco de se
tornarem multidimensionalmente pobres.
Os dados da pesquisa para
a estimativa do IPM do Brasil se referem a 2006. No Brasil, 2,7% da população
sofrem de múltiplas privações, enquanto outros 7,0% estão vulneráveis a
múltiplas privações. A amplitude da privação (intensidade) no Brasil, que é o
percentual médio de privação vivenciado pelas pessoas na pobreza
multidimensional, é de 39,3%. O IPM, que á a parcela da população
multidimensionalmente pobre, ajustado pela intensidade das privações, é de
0,011.
O IPM é um indicador
complementar de acompanhamento do desenvolvimento humano e tem como objetivo
acompanhar a pobreza que vai além da pobreza de renda, medida pelo percentual
da população que vive abaixo de PPP US$1,25 por dia. Ela mostra que a pobreza
de renda relata apenas uma parte da história. No caso do Brasil, a contagem de
pobreza multidimensional é 1,1 ponto percentual menor que a pobreza de renda.
Isso implica que indivíduos que vivem abaixo da linha da pobreza de renda
talvez tenham acesso a recursos de não renda.
Entenda o IDH
O IDH varia de 0 a 1
(quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano) e mede as
realizações em três dimensões básicas do desenvolvimento humano – uma vida
longa e saudável, o conhecimento e um padrão de vida digno. As três variáveis
analisadas, dessa forma, são relacionadas à saúde, educação e renda.
Desde o ano passado o
Relatório de Desenvolvimento Humano deixou de classificar o nível de
desenvolvimento de acordo com valores fixos e passou a utilizar uma
classificação relativa. A lista de países é dividida em quatro partes
semelhantes. Os 25% com maior IDH são os de desenvolvimento humano muito alto,
o quartil seguinte representa os de alto desenvolvimento (do qual o Brasil faz
parte), o terceiro grupo é o de médio e os 25% piores, os de baixo
desenvolvimento humano.
18 países incluídos este
ano
Palau, Cuba, Seychelles,
Antígua e Barbuda, Granada, Líbano, São Cristóvão e Névis, Dominica, Santa
Lúcia, São Vicente e Granadinas, Omã, Samoa, Territórios Palestinos Ocupados,
Kiribati, Vanuatu, Iraque, Butão, Eritreia.
Desenvolvimento Humano nos
BRICS
Veja comparações do
desenvolvimento humano do Brasil com o dos outros países do grupo chamado BRICS
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), economias em desenvolvimento
que se destacam pelas semelhanças no ritmo de crescimento e pela influência
geopolítica que exercem atualmente na arena internacional.
Para ler o relatório completo clique aqui: http://hdr.undp.org/en/ reports/global/hdr2011/ downlo
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