Entenda porque o lucro é moralmente justo e porque deve ser livre!
Por Klauber Cristofen Pires
Já comentei entre os meus leitores sobre
o caso de uma mãe que não se conformou com os preços das pipocas,
refrigerantes e guloseimas que são vendidos em cinemas dentro de
shopping-centers, a ponto de sugerir a intervenção do
Ministério Público contra aqueles que, segundo seu entendimento,
praticavam um crime contra a economia popular.
É muito comum que pessoas honestas,
trabalhadoras e que realmente não apoiam os regimes socialistas
acabem entrando em certas armadilhas lógicas. Isto demonstra uma
certa falta de discernimento entre o público que somente um processo
educativo pode resolver.
De fato, ao fazermos as contas,
verificamos que um reles saco de pipoca em um destes estabelecimentos
ultrapassa várias vezes o preço de um quilo de milho para pipoca e
da respectiva quantidade de óleo, manteiga e energia, e daí o
disparate. Assim é que as pessoas que se aliam a raciocínios mais
estritos tendem a alimentar a convicção que o lucro é um roubo,
desde que o vendedor toma para si uma parcela de riqueza que não é
composta pelos seus custos. Além destas, há ainda outros cidadãos
que se acreditam moderados, por concordar que um certo percentual de
lucro pode ser aceito para fazer a economia funcionar, percentual
este, no entanto, absolutamente arbitrado por eles próprios. Ora,
onde pode haver senso de justiça por conta de um julgamento tão
arbitrário e subjetivo, isto é o de estabelecer o quanto terceiros
devem lucrar com seu trabalho?
Em uma sociedade livre, as trocas entre
os diferentes indivíduos gera o fenômeno da especialização. A
especialização é uma forma de organização da sociedade que
produz mais resultados por indivíduo, mas tem o inconveniente de
produzir excessos da coisa produzida e faltas das coisas abdicadas de
serem feitas. Daí a dependência das trocas, que chamamos de
comércio.
Imaginemos um sujeito que vamos chamar
aqui de José e que pensando em economizar pode crer que pintar por
conta própria a sua casa pode sair mais barato do que contratar um
pintor ou uma firma de pintura. Afinal, ele pensa, deixará de pagar
o lucro da gananciosa firma de pintura. Todavia, o que faz a empresa
de pintura ter lucro é o fato de que os equipamentos de pintura são
utilizáveis em outros trabalhos, assim como os restos de tintas e
outros consumíveis; além, disso, contabilizemos sua experiência e
conhecimento, de forma que produz seus serviços com melhor
acabamento e em menos tempo. Ainda mais, recordemos que a firma de
pintura também se especializa em comprar seus insumos junto aos
fornecedores mais baratos, bem como aufere descontos mais vantajosos
por comprar em maior escala do que o nosso amigo. Por fim, há de
considerarmos o próprio tempo utilizado nas fainas por José, que
perde dinheiro por não se aplicar em outra atividade produtiva.
Quando assistimos pela televisão a
iniciativa de certos políticos populistas que inventam mutirões de
construção de casas próprias, podemos compreender como é grave a
doença econômica no nosso país, por causa dos altos impostos, das
escravizantes burocracias e dos oligopólios formados por empresas
que desfrutam benefícios privilegiados em um ambiente altamente
pestilento para a concorrência, pois o esperável seria que qualquer
cidadão espontaneamente comprasse sua casa ao invés de botar a mão
na massa.
Todavia, mesmo em um país economicamente
pervertido como o Brasil, certas vantagens advindas da especialização
são espetaculares! Por exemplo, quem poderia construir com as
próprias mãos um automóvel por um custo inferior, quiçá igual,
ao que o adquire na concessionária? Pois pensemos igualmente com os
eletrodomésticos, as roupas, os calçados e praticamente toda a gama
de produtos industrializados...
Até aqui, creio ter demonstrado que o
lucro, como resultado da especialização, não se incorpora no
conceito de roubo, mas sim na parcela da troca que corresponde às
coisas que o cidadão especializado deixou de fazer ao ter decidido
produzir um só bem ou serviço. O lucro, então, é como um vale que
seus compradores emitem, autorizando-o a ir buscar junto a terceiras
pessoas aqueles outros bens e serviços que ele merece por ter
produzido seu bem ou serviço não somente para seu próprio consumo,
mas para usufruto pelos demais cidadãos.
A esta altura, temo que ainda reste à
mentes mais renitentes a aceitação do lucro, desde que encaixado em
um hipotético balancete de custos como critério para fiscalizar que
a parcela representada pelo lucro não ultrapasse o custo total.
Com efeito, o que vai acima muito pouco
convencerá aquela mãe no caso específico das pipocas dos cinemas
em shopping-centers – e isto porque não há mesmo alguma
comparação possível em termos de custos para a produção daquele
bem pela própria mãe, em sua casa, ou mesmo comprando produtos
equivalentes em paradas de ônibus e praças - anão ser, claro, os
altíssimos custos de aluguel e condomínio naqueles conglomerados
comerciais.
Porém, aqui se faz presente um outro
princípio da sociedade de economia livre: a decisão sobre a
aplicação dos recursos. Se não concedermos a ampla liberdade de
lucro aos empreendedores, certos bens e serviços simplesmente jamais
virão sequer a serem criados. O caso é que, se um órgão
estipulasse que os cinemas devessem vender suas pipocas a preços
iguais aos que se veem nas vias públicas, eles simplesmente
desistiriam do investimento.
Mas não fiquemos somente aí. A
arbitrária posição de alguém de estipular os preços de terceiros
desconhece que se o negócio de vender pipocas em shopping-centers se
mantém, não é por força ou vontade dos donos dos
estabelecimentos, mas sim das outras pessoas que decidem patrocinar
seus empreendimentos. Será moralmente justo eu proibir todas as
pessoas que usualmente preferem comprar pipocas quentinhas na porta
do cinema dos shopping-centers de usar o dinheiro delas como se lhes
aprouver?
Há quem diga que comprar pipocas em
cinemas de shopping-centers é um luxo. E digo: “meu amigo, você
tem toda razão!”. Não obstante, o que tais pessoas que pensam
assim devem apreender é que o luxo é uma poderosa ferramenta de
democratização do uso, porque é o alto preço do luxo que permite
patrocinar as inovações. Basta lembrar o luxo que já foi ter um
horrível aparelho celular, nos primórdios de sua comercialização,
quando uma linha custava algo como U$ 20,000.00 (vinte mil dólares).
Não se assustem, isto foi há coisa de poucos vinte anos atrás!
Como bem lembrado por Ludwig von Mises, utensílios tais como
talheres já foram bens que somente se encontravam nas mesas dos
reis! Eu ainda me lembro de meu pai pagar religiosamente por um
consórcio para a aquisição de um aparelho de vídeo-cassete,
quando hoje se adquire um reprodutor de DVD's por irrisórios cem
reais ou menos.
Há ainda alguns casos em que persistem
lucros extraordinários por artigos de luxo cuja tecnologia e acesso
aos materiais de fabricação já se popularizou. É o caso dos
artigos de griffe. Ora, estes comércios também se sustentam porque
há pessoas que buscam diferenciais na moda que mais tarde vão se
copiados pela indústria de massa. Seus clientes, então, agem como
verdadeiros mecenas, por patrocinarem a arte.
Não obstante, pode ainda mesmo ser o
caso de bens que não oferecem nada de mais. Neste caso, o
diferencial não está no produto, mas nos próprios clientes. O que
faz os potenciais clientes é o desejo de participarem do seleto
grupo das pessoas que podem pagar por aquele bem. É preciso insistir
que até mesmo aí se encontram vantagens para os clientes, que eles
mesmos decidem sobre elas.
Todavia, nada disso obriga a ninguém. Eu
mesmo adoro e admiro as coisas mais baratas que o capitalismo pode
nos proporcionar, e me nego a pagar – por mais dinheiro que eu
tenha ou venha a ter – por coisas que são muito eficientes, muito
baratas e mesmo bonitas. Isto somos eu, você e todas as pessoas
desfrutando das nossas liberdades. Não é melhor assim?
Seus argumentos são bem articulados mas são superficiais.
ResponderExcluirEnquanto na verdade você justifica a concentração de renda, meios de produção e a exploração do capital especulativo por uma elite minoritária que explora o trabalhador sem distribuição justa de lucros.
E com esse artigo me parece que isto é para o exercício da liberdade e bem social. Ou seja, o luxo de alguns é para o bem de todos? Realmente temos que aceitar isso?
pseudo liberal que individualizam os lucros defendendo a iniciativa privada e quando suas empresas quebram, e geralmente por mal gestão, querem socializar os prejuízos recorrendo ao público?
Quando a consumidora recorre ao Estado é absurdo??? E quando o banqueiro pede ajuda ao Estado???? Quando o tal empresário usa de subsídios, incentivos e infra estrutura providos pelo Estado????