Do meu testemunho, sempre tive muitas
mais razões para depositar confiança na obra do filósofo Olavo de
Carvalho no que no comportamento evasivo de Rodrigo Constantino.
Por Klauber Cristofen Pires
Ontem assisti a um vídeo que me foi
enviado por um estimado leitor, no qual o economista Rodrigo
Constantino descarrega uma série de impropérios contra o filósofo
Olavo de Carvalho e aqueles que o seguem ou, usando cá eu de uma
expressão mais adequada, concordam com os seus argumentos.
Primeiramente, lamento este tipo de
coisa: tenho horror a picuinhas pessoais, e decididamente, não sou
adepto do chamado “fogo amigo”. No meu entendimento, sempre
haverá, em grau menor ou maior, divergências entre liberais e
conservadores, e mesmo entre os próprios, que serão saudáveis no
tanto que forem honestas. Meu sonho é que um dia nossos parlamentos
não sejam divididos entre marxistas de diferentes matizes, mas
justamente entre variedades de liberais e conservadores.
Infelizmente, as coisas chegaram a um
ponto de racha, de tal forma que se dirigiu, na fala do Rodrigo, a um
grupo muito maior de pessoas, motivando-me, portanto, a tecer os
comentários que seguem.
O vídeo possui quinze minutos,
praticamente todo constituído de falas de repúdio por Olavo de
Carvalho, a quem chama diversas vezes de “astrólogo embusteiro”
e de “incitador de teorias conspiratórias”, bem como pela
direita que ele considera retrógrada, fanática e medievalista –
os olavetes – epíteto “carinhosamente” lembrado por ele.
Se me lembro de mais alguma coisa,
Rodrigo ainda lança dúvidas sobre o conceito de ser humano para
fins da defesa do aborto, de estado laico, fala sobre suas
experiências na Rússia, faz a apologia das drogas leves como a
maconha e critica as teorias conspiratórias do Olavo de Carvalho,
entre as quais o Foro de São Paulo, que pelo jeito, ele ainda não acredita. Se me passou algo mais,
perdoem-me.
Há coisa de uns oito anos atrás, eu
participava de uma rede de discussão pelo Yahoo, na qual
frequentemente debatia com Rodrigo Constantino, e já naquela época,
pude perceber uma característica peculiar em seu caráter: a
frequência com que ele dava meia-volta retroativamente no que
afirmava quando se via num beco sem-saída. O mais interessante é
que jamais comentei isto com ninguém, especialmente com Olavo de
Carvalho, justamente a pessoa que veio por si mesmo a constatar
exatamente o mesmo que eu, anos atrás.
Naquele mesmo tempo, eu ainda me lembro,
o Sr Constantino trabalhava para uma grande instituição financeira
e viajava constantemente para a Rússia, sobre a qual nos declamava
todos os elogios como exemplo de nascente economia de mercado e as
mais lisonjeiras esperanças de amplas liberdades civis, não
obstante todo o ceticismo que nos acometia, munidos que estávamos
das notícias que já tínhamos - vindas do filósofo Olavo de
Carvalho - das manobras para manter aquele país nas mãos dos
dirigentes comunistas, agora transformados em milionários gangsters.
Ainda demorou uns bons anos para que o Rodrigo Constantino viesse a
dar o braço a torcer e reconhecer que se enganara completamente a
respeito daquela nação. Surpreende-me, portanto, que neste vídeo
ele ainda reivindique como curriculum vitae seus desastrados
prognósticos. Mentira minha: não estou tão surpreso assim não...
Tenho há muito me posicionado como um
liberal. Não obstante, é preciso deixar bem claro, tal como o
próprio filósofo-economista Ludwig von Mises alertou em Ação
Humana, que a doutrina liberal austríaca é uma “ciência de
meios”, e não de fins. Em outras palavras, o liberalismo austríaco
não se propõe a ninguém indicar quais valores que deve adotar para
si, mas apenas indica o caminho mais rápido para uma sociedade
conseguir enriquecer mais rapidamente, dentro de um ambiente de paz
duradoura e de um regime de não-agressão à vida e à propriedade
privada.
Por isto mesmo, o liberalismo necessita
do complemento valorativo. É um erro colossal transformar um sistema
de meios em um sistema de fins. Os valores que adoto para mim mesmo e
que recomendo a todos provêm do Cristianismo. Daí referir-me a mim
mesmo como um liberal cristão ou se quiserem, para simplificar, de
um “conservador”. (Não sou lá tanto chegado a rótulos,
mesmo... Só não abusem: socialista, petista e o escambau, nem
pensar!).
Um exemplo bem simplório de valor:
muitos liberais acusam os socialistas de inveja, no que estão
cobertos de razão. Mas em minha vivência, tenho percebido como a
soberba de certos ricos provoca rancor e ressentimento entre as
pessoas mais humildes. A inveja socialista se alimenta da imoral
soberba capitalista.
Eu cresci numa média cidade industrial
- Joinville/SC – de tal forma que na minha fase pré-adolescente eu
ainda pude testemunhar a simplicidade com que os próprios donos das
fábricas chegavam ao trabalho e cumprimentavam seus operários como
bons vizinhos que, acreditem, eram!
Outra: em um certo programa exibido pelo
elegante cantor e apresentador Ronnie Von, pela TV Gazeta, fora
entrevistado um cantor brega-sertanejo que nasceu no interior do
Maranhão e que segundo o próprio, havia recebido dos pais uma
educação bastante rígida. O que quero ressaltar aqui é a
identidade entre ambos logo percebida e ressaltada pelo próprio
apresentador, que embora tenha nascido em São Paulo no seio de uma
família rica, salientou que recebeu dos seus pais e da escola a
mesma educação e os mesmos valores do cantor de origem pobre
nascido no interior daquele estado nordestino! Olhem só que coisa
bonita!
A riqueza é boa, não se negue, mas a
soberba, esta corta como navalha! Não há a quem não doa na alma
testemunhar jovens ricos dirigindo perigosamente pelo trânsito, ou
tratando com despeito professores nas faculdades ou quaisquer outras
pessoas trabalhadoras que se enquadrem em uma classe social mais
modesta.
Os hábitos comedidos, os bons modos e o
respeito sincero, aqui só a guisa de exemplo, são alguns valores
que complementam um sistema de liberdades, harmonizando e adoçando a
convivência entre pessoas de diversas posses. Pois, se a um é
solicitado conter a sua inveja, a outro também deve ser requisitada
a humildade.
Agora, sobre o caso de fetos anencéfalos,
cumpre informar que o Sr Rodrigo comete imperdoável confusão
teórica e demonstra escassos conhecimentos jurídicos. No seu vídeo,
ele argumenta que não há um consenso preciso de quando um feto
venha a se tornar um “ser humano”, e claro, alijada desde já a
religião, uma vez que a sua é o ateísmo. A quem se dispuser a
ouvir sua fala, perceberá a confusão que ele faz entre o termo
biológico “ser humano” e o termo jurídico “pessoa civil”.
O conceito biológico de ser humano
compreende o embrião desde a concepção. Oras, não se tratando de
pedra, nem de vegetal, nem vírus ou bactéria ou um bolinho de
bacalhau, é óbvio de se trata de um ser humano, na fase de feto,
assim como eu sou um ser humano, na fase de um senhor quarentão.
Já o termo jurídico “pessoa civil”
presta-se a definir o momento da personalidade civil, tal como
prevista no art. 2º do Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro
de 2002, que diz: “A
personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.
Para ser mais exato, o que é necessário
para que um bebê recém-nascido adquira personalidade civil é que
faça pelo menos uma inalação e uma exalação de ar. Respirou uma
única vez, adquiriu status de pessoa civil. A marcação exata da
personalidade civil serve para prover necessidades jurídicas
específicas no âmbito do direito civil, especialmente no que diz
respeito a heranças e linhas sucessórias.
No entanto, percebam, em tempo, que a
própria redação já assinala a garantia dos direitos do nascituro
desde a concepção. Ora, como alguém pode ser sujeito de direitos
se não tiver o direito ao maior dos direitos, isto é, à vida?
Quanto à questão de estado laico, é
bom frisar que não estamos diante de um estado ateu. Porventura não
me prospera o direito de empurrar goela abaixo de qualquer ateu as
minhas convicções religiosas, razão pela qual o Sr Constantino
pode dormir sossegado. Entretanto, as minhas concepções espirituais
informam-me os meus valores, e aí o buraco é mais embaixo! Quem há
de alegar que os meus direitos políticos devem ser preteridos em
favor dos de qualquer ateu?
Finalmente, sobre as drogas leves, ou
mais diretamente, sobre a maconha: sou contra a descriminalização!
Sou contra, porque não é droga leve coisa nenhuma! Já ficou
demonstrado como a maconha mata as células neurais, tornando seus
usuários pessoas lentas, indispostas, de fraca memória e raciocínio
lento.
Aqui vale eu também contrapor o meu
testemunho vivencial ao do Rodrigo Constantino. Eu também viajei
muito para o exterior, e no meu caso, principalmente para os “tigres
asiáticos”, especialmente Cingapura, Coréia do Sul, Taiwan e
Japão. Pois, o que vi lá foram povos pujantes e cheios de energia,
com sua juventude viçosa e intensamente dedicada aos estudos e ao
trabalho. E o que vemos das juventudes americana e brasileira? Jovens
frívolos queimando o cérebro com todo tipo de drogas!
Tenho a mais firme convicção de que as
drogas fazem parte do arsenal de guerra civilizacional. Um povo
drogado é um povo destruído. Simples assim!
Finalizando: eu não tenho por conduta a
adesão. Eu leio permanentemente do Olavo de Carvalho e concordo com
seus argumentos quando me convencem, ou, dada a respeitabilidade do
filósofo por um imenso histórico de acertos, quando coloco um
assunto de molho para melhores reflexões. Nem sempre concordo, e
tenho isto mesmo por muito saudável.
No âmbito da defesa do liberalismo
austríaco e da denúncia do socialismo, Rodrigo Constantino costuma
escrever muito bem, e tanto assim que vez por outra faço questão de
reproduzir seus artigos. Entristece-me, porém, a aplicação de
tanta energia em causas vãs ou duvidosas.
Do meu testemunho, como demonstrei nos
parágrafos acima, sempre tive muitas mais razões para depositar
confiança na obra do filósofo Olavo de Carvalho no que no
comportamento evasivo de Rodrigo Constantino.
Cacete, suas afirmações sobre o uso de drogas ficaram excelentes!
ResponderExcluirNão entendi porque o estado deve interferir na questão da maconha?
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