Talvez cusparada na liberdade seja um título mais adequado, já que regimes totalitários, autoritários, socialistas, esquerdistas, comunistas, capitalistas, todos se dizem democráticos.
Ten
Brig Ar Carlos de Almeida Baptista
Está é a primeira vez que revelarei, com mais
profundidade, a minha profunda repulsa contra a hidra vermelha que
ampliou seus tentáculos sobre o mundo livre, finda a 2ª Guerra
Mundial, à custa de milhões de mortos e escravizados, falindo
fragorosamente a partir da falência da sua “sede de origem”.
A forma como tentaram submeter nosso País, em
1935, foi idêntica à dos países já então dominados. Traições,
filhos delatando pais ou estes entregando filhos, violências contra
os que ousavam dissentir, o canto da sereia para atrair lideranças
penalizadas pela falta do pão na mesa dos pobres. O cinismo com que
denominam sua ideologia e suas ações de “democratas”, apesar
dos arquipélagos gulag , dos confinamentos e das execuções
sumárias!
Eu não estava no Brasil no dia 31 de março de
1964. Encontrava-me servindo no 4º Contingente das Nações Unidas
no Congo, voando C47 em apoio às tropas de superfície. Cheguei em
janeiro de 1963, regressei em junho de 1964.
Em 1961 e 1962, de repente afastado da instrução
na aviação de caça, no 1º/4º GAv, Fortaleza, por motivo de
doença que julgaram melhor ser tratada no Rio de Janeiro, vi-me
classificado na Base Aérea do Galeão, depois no 1º Grupo de
Transporte. Rapidamente restabelecido voei, nesses dois anos, perto
de 1600 horas em aeronaves C47, levando, nas asas do Correio Aéreo
Nacional assistência médica, material e até mesmo espiritual, a
regiões e populações tão distantes da civilização e tão
esquecidas das autoridades governamentais. Engraçado lembrar que
nunca vi miséria, apenas pobreza e coragem para superar tantas
dificuldades.
Após a tragicômica renúncia do “homem da
vassoura” pude perceber a sanha das minorias vermelhas na tentativa
de re-editar 1935. Com o apoio de muitos que se encontravam, então,
no Poder, iniciaram o desmonte do edifício para, como sempre,
surgirem dos escombros como alternativa para a felicidade geral, num
governo do povo e para o povo.
Fui tendo contato com os que, sutilmente, estavam
escalados como endoutrinadores, passo a passo revelando-se como
de grande influência na transição para um novo mundo, com muitos
inocentes úteis atraídos pela promessa do pão para todos, e
dos aproveitadores, mais conhecidos como “em cima do muro”,
prontos a cair nos braços do lado vencedor.
No Congo, testemunhei a ação desenvolvida pelos
comunistas para captar o apoio daquela gente tão pobre, recentemente
libertadas da escravidão dos colonizadores. Ali estava o prato ideal
para a ampliação da hidra.
Comecei a acompanhar, então, as notícias do
Brasil referentes ao progresso da “esculhambação”, com perdão
da má palavra, provocada pelos sindicatos, pelas ligas camponesas
e, afinal, pela tentativa de desestabilizar o braço armado da
nação, com as quebras da hierarquia e da disciplina.
Chegado o primeiro trimestre de 1964, com ele
chegavam jornais e notícias, por cartas, pelo rádio-amador ou pelas
rádios. Confortava-me o início da reação da população e das
elites, bem como do clero, clamando pela intervenção militar. Na
hora pensei que o sentimento legalista dos militares pudesse
contribuir para o consentimento da implantação da ditadura do
proletariado.
Comecei a planejar o não regresso ao Brasil,
pensando nas minhas raízes em Portugal, retirando, depois, meus
familiares do inferno que seria implantado neste País.
No dia 31 de março participei de uma missão para
Elizabethville, compondo tripulação com o Comandante do Esquadrão
que não se mostrava minimamente preocupado com a deterioração
tupiniquim. Estávamos os dois desfrutando da piscina do hotel onde
pernoitaríamos quando por volta das 12 horas alguém o chamou ao
telefone. Não tendo regressado dirigi-me ao seu apartamento,
encontrando-o completamente prostrado. Disse-me que recebera uma
ligação do Brasil comunicando que houvera uma revolução e que ele
não retornaria à Pátria. Regressaríamos à Base e ele passaria o
comando ao seu Oficial de Operações, após o que, desapareceria no
mundo.
Foi a forma como tomei conhecimento da virada que
acontecera graças à sociedade que determinara aos militares a
retomada da normalidade democrática do País.
Volto agora aos acontecimentos deste dia
29/03/2012, em que cerca de 300 idosos que se orgulham do contragolpe
ocorrido em 1964 assistiam a um painel em que se promovia a análise
do que ocorrera naquele passado que teima em ficar próximo. Em
baixo, os agitadores clamavam, aos gritos, contra os pacíficos,
ordeiros e orgulhosos militares e civis que reverenciavam o momento
em que ajudaram a evitar uma cubanização do nosso País.
Ao final, estávamos sitiados dentro da “Casa da
República”, orientados pela força de segurança a não sairmos do
prédio. Eu pensei, de imediato, na possibilidade de que um dos mais
idosos e mais debilitados resolvesse enfrentar a turba.
Particularmente pensei no Brig Camarinha, meu ex-chefe e dileto
amigo, e resolvi enfrentá-los, antes que um deles, mais debilitado
que eu o fizesse. . Junto com meu “irmão” Juarez saímos à rua,
e enfrentamos a manifestação programada como pacífica, coisa que
os comunistas não conseguem realizar. Xingamentos variados partiram
da “matilha", pois nunca atuam sozinhos. Um deles, percebendo
que eu ia falar alguma coisa desafiou: “fala, fala alguma coisa,
seu nazista!”
Controlando-me, disse-lhe apenas: “Você é
muito burro para entender o que eu iria falar, além de covarde”.
A partir daí fomos andando até chegar ao metrô,
perseguidos pela alcatéia e protegidos por um policial militar que,
coitado, tentava proteger os dois velhinhos que ousaram usar do seu
direito de ir e vir e da livre manifestação de pensamento.
Foi terrível receber a cusparada que é vista na
foto. Podem perceber que têm todas as características de drogados,
com olhos esbugalhados e falha de raciocínio. Aí pensei, se eu
estivesse armado? Cheguei a pensar nisso, antes de ir à reunião. A
justiça julgaria uma reação desproporcional um tiro dado por
alguém que dedicou mais de 50 anos a serviço da pátria contra um
imbecil vermelho que ousara cuspir no seu rosto?
Sei não, mas isso vai acabar acontecendo. Na
próxima vez, vão invadir a “Casa da República”. São insanos
e, com certeza, regiamente pagos para isso. Alguém vai se oferecer
para ser o cadáver fabricado, como ocorreu com o Edson Luis, bem
lá atrás, na manifestação estudantil do Calabouço.
Ao tempo em que caminhamos, por cerca de 100
metros, à procura de um taxi, alvo de agressões morais e de
objetos contra nós lançados, pensava: “ Que País infeliz. Esta
data deveria ser comemorada em todos os cantos do país,
especialmente nas ruas desta cidade que naquele tempo correu sério
risco de deixar de ser maravilhosa”.
Para escapar da sanha daqueles infelizes acabamos
entrando no metrô, deixando-os do lado de fora, graças a uma feliz
orientação do policial militar que nos tentava proteger.
À noite, em casa, confortado pela família e
pelos telefonemas de solidariedade tive que “engolir” a
publicidade dos comunistas pela televisão, agitando idênticas
bandeiras vermelhas e apresentando-se, da mesma forma que lá atrás,
antes da derrocada mundial de seus governos, como os arautos de uma
nova era cheia de utópicas promessas de felicidade geral.
Estou certo de que os militares jamais se
apresentarão para salvar o Brasil, como exigido em 1964, mas creio
que esses lunáticos não conseguirão, jamais, transformar este
paraíso numa nova Cuba, Albânia, . . . . . No mínimo,
enfrentarão as bengaladas dos que tentaram ultrajar neste
repugnante episódio da tarde de 29 de março último.
Quem viver, verá!
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