Se a comandante em chefe diz não ter do que se arrepender do seu passado negro, como têm que renegar o seu, construído dentro dos deveres castrenses, os que cumpriram e cumprem as leis constitucionais em defesa do regime e da unidade nacional, leis que a estão beneficiando?
Quem se movimenta em torno do epicentro do Executivo sempre é atingido pelas emanações hipnóticas do Poder. Contudo, deixam-se envolver os que já eram propensos ao desvio de reta e flexíveis às seduções de cargos e funções.
“Movimentar-se em torno” não significa aderir, prostrar-se, anular-se. Mas a terrível fonte de atração é inebriante, superior às forças de reação, se é que haja vontade de reagir. As consequências não se fazem esperar e já vêm com o rótulo adequado às novas circunstâncias: ‘Sujeição’.
O que não se admitia acontecesse, mas infelizmente é uma verdade que se constata com frequência indesejável, são representantes das Forças deixarem de “circular em torno” para penetrarem no círculo e nele alimentarem-se do tal “senso comum”.
Lamenta a parte escrupulosa da sociedade que essa cooptação tenha atingido alguns, mais do que se admitia, deixando-a decepcionada pela deserção aos juramentos anteriormente assumidos, de manterem-se, unicamente, em defesa do Estado Brasileiro e não de partidos políticos de cores antinacionais. Esta parcela íntegra da sociedade ainda deseja crer, a todo custo, que a transparente acomodação seja uma oculta manobra estratégica. Mas isto é uma ilusão.
É um enganar-se para não sofrer. Coisas de masoquistas. Enquanto isso, a Instituição Militar continua a ser vilipendiada pelos que atentaram contra os quartéis, e, no entanto, hoje, dominam o ministério da antidefesa, recebem medalhas designadas com os nomes ou as qualidades dos heróis nacionais, num enxovalhamento, total, da simbologia da militar. Que valor terà £o elas agora? Que alguém probo, com serviços prestados à Nação vai querer recebê-las e levá-las ao peito, e igualar-se, por baixo, aos réprobos nacionais?
Antes, desejava-se que os militares viessem a público expressar a posição da caserna sobre tantos fatos criados, unicamente, para humilhá-los. Houve tempo em que se indagava a razão do incomodativo silêncio, quando as ações revanchistas iniciaram, com o furor da ignorância, como é característico aos sectários da seita, por caberem, justamente aos militares, a manutenção da integridade do Estado, em benefício mesmo da própria presidente inoperante, mesmo sendo ela uma fraude, mesmo tendo ela um histórico a lamentar. São paradoxos da tal democracia, hipócrita forma de governo, pelo menos, no Brasil.
Agora, chega-se à conclusão de que os militares realmente devem calar-se; emudecer-se; silenciar-se. Por quê? Porque já não têm nada a dizer. Recebem de que m jamais poderia presidir a Nação ordens nervosas, desequilibradas, para apagarem da memória o inesquecível 31 de Março e outras efemérides tradicionais, de grande peso cívico, e continuam a manter-se num mutismo incompreensível, omitindo-se, deixando perder-se no ‘não dizer’ a resposta merecida, mas dura, à descabida provocação de quem tem contas a ajustar, primeiro, com a sua própria consciência. Nesse caso, fiquem como estão: calados.
Se a comandante em chefe diz não ter do que se arrepender do seu passado negro, como têm que renegar o seu, construído dentro dos deveres castrenses, os que cumpriram e cumprem as leis constitucionais em defesa do regime e da unidade nacional, leis que a estão beneficiando?
No silêncio, pelo menos, pode-se imaginar que estão a refletir ponderadamente sobre a situação, a fim de melhor solucioná-la, mas também pode levar a que se pense que nada mais há a fazer. Pelo menos, no idealismo da sociedade pensante, há a possibilidade de se optar pela primeira hipótese, a fim de manter acesas as esperanças e não deixar-se levar pelo fatalismo típico dos defensores da instituição do regime macunaímico, o regime da presidente. Neste último caso, fechar-se-ia a cortina desse teatro da falsa república e surgiria a República Democrática dos Farsantes.
Antes que alguém critique a crítica, afirma-se, aqui, que liberdade de criticar tem quem mais defende o criticado e a autora destas palavras indignada com os atos próprios de energúmenos, de vandalismo verbal e físico, de predadores da história brasileira, iconoclastas de heróis febianos está entre os mais constantes defensores das Forças Armadas.
Recebam estas ressalvas, caros militares da Ativa, como resultantes do desapontamento, mais um, se não prevalecessem o egoísmo e a avidez dos cargos. Agradecida ficará esta articulista com aqueles que compre enderem este desabafo e, em pensamento, responderem com uma simbólica continência, se acharem que a merece.
Aileda de Mattos Oliveira é Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa. Articulista do Jornal Inconfidência. Membro da Academia Brasileira de Defesa.
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