Ao que parece o lançamento desse livro, com o arrependimento de um cidadão que jamais foi citado como torturador por qualquer ex-militante da luta armada, nada mais é do que um projeto para desviar o foco dos escândalos que assolam o país no momento e, uma preparação para um clima favorável à retaliação que está sendo preparada para a encenação que será a Comissão da Verdade.
Por Maria Joseíta S. Brilhante Ustra
Sobre esse silêncio com relação a sua atuação na repressão à luta armada, se é verdade o que os jornais dizem - ainda não lemos o livro -só tem uma explicação, que até foi bem bolada : parece que ele só lidou com mortos, levando-os para incineração e, como mortos não falam, ele não poderia ser reconhecido por cadáveres.
Em compensação, a sua ficha criminal é bastante extensa. Pelo que os jornais - O Globo, Estadão , Folha de São Paulo e Folha de Vitória -, publicaram, além das incinerações de cadáveres que ele diz ter cometido e estar arrependido, cometeu outros crimes comuns, tais como assassinatos e fraudes processuais alguns ainda sem punição.
É inacreditável que um ex-delegado do DOPS do Espírito Santo, com uma ficha corrida com crimes tão absurdos revelados por ele, que fez tantas coisas abomináveis, segundo ele próprio, tenha se mantido por mais de 30 anos no anonimato e jamais tenha sido identificado pelo Grupo Tortura Nunca Nunca Mais e outras ONGs dedicadas aos Direitos Humanos!!! Como ele passou sem deixar vestígios de seus atos nos depoimentos na Justiça Militar ?, Como nenhum jornalista não chegou a uma mínima pista de sua vida de atitudes inconcebíveis até para filmes de terror? Será que não temos jornalistas investigativos ?
As acusações que faz no livro não se sustentam, minimamente. Não fala em datas, todos os citados estão mortos, com exceção de três - provavelmente os que são os alvos a serem atingidos.
Por exemplo, quem trabalhava na Comunidade de Informações, ao ser tranferido para outras funções afastava-se, definitivamente, das Informações e das Operações de Informações. Não tomava parte em qualquer ato no ramo das Informações. Isto se devia à extrema compartimentação que havia dentro do Serviço de Informações. O Cel Ustra foi afastado da Comunidade de Informações, em 14/11/1977, quando assumiu o comando do 16º Grupo de Artilharia de Campanha, em São Leoplodo/RS, não retornando mais a esta Comunidade até o final da sua carreira na ativa.
Assim, como o Cel Ustra teria "poder" para influenciar sobre a morte de Fleury - em 1979 -, se há 5 anos já não morava em São Paulo, não pertencia à Comunidade de Informações e residia em São Leolpoldo?
É facil averiguar o caso Fleury. Verifiquem que dos dados citados por ele no pretenso almoço onde foi tramada a execução de Fleury, três já morreram e os que , além dele, estão vivos não compareceram a este almoço.
Mais fácil ainda, procurem a família do delegado Fleury - a viúva, o filho, a filha, o genro médico, o marinheiro que o tirou da água e o casal que o acompanhou no jantar -, e verifiquem o que aconteceu naquela fatídica noite. Está mais do que provado que o delegado Fleury morreu por choque térmico, ao cair, acidentalmente, nas águas frias de Ilha Bela, mais ou menos a uma hora da madrugada, quando passava de um barco para outro, na companhia de sua mulher, de um casal amigo e de seu próprio filho.
E, como o Cel Ustra poderia ter comandado o atentado ao Rio-Centro, no Rio de Janeiro, em 30 de abril de 1981, se residia em Brasília, estava em uma função burocrática no Estado Maior do Exército, no Quartel General do Exército e, portanto, fora da Comunidade de Informações?
É só raciocinar um pouquinho.
Quanto ao caso do jornalista Alexandre von Baumgarten, morto em outubro/1982, este já foi mais do que visto e revisto. Quem não se lembra do "Polila", querendo incriminar o General Newton Cruz, de qualquer maneira? O Cel Ustra nunca conversou com o general Newton Cruz, nunca foi seu subordinado, seu nome nunca foi citado em qualquer notícia publicada na época, no inquérito policial ou na Justiça quando o caso foi julgado e naquela ocasião não mais pertencia à Comunidade de Informações. E, o General Newton Cruz foi inocentado.
Sem ler o livro e sem uma pesquisa mais profunda, é um caso tão estranho, com todos os citados mortos e um arrependimento tão tardio para um pastor, que nos leva a elocubrar coisas como:
1- O ex-delegado terá recebido uma grana muito boa para aliviar o final dos seus dias e pagar aos advogados que devem estar tratando de salvá-lo dos 18 anos de prisão pela acusação do assassinato da mulher com 19 tiros e da cunhada com 11 , encontradas jogadas em um lixão?
2- Ou terão lhe oferecido o beneficio de uma "delação premiada" - ainda que falsa - em troca do alívio da pena desses últimos assassinatos, que não são abrangidos pela Lei da Anistia?
Será que os escritores do livro-depoimento, pesquisaram a veracidade e as provas dessas tenebrosas histórias?
É inacreditável que um deles, o jornalista Marcelo Netto, que esteve preso quando se preparava, juntamente com sua primeira esposa, para reforçarem as fileiras de guerrilheiros do PCdoB no Araguaia , não tenha sabido do caráter e da atuação deste ex-delegado e que não tenha se preocupado em procurar provas para apresentá-las no livro e torná-lo crível..
Creio que, com a influência que o jornalista acima teve, e talvez ainda tenha, nos corredores do poder, assessor que foi do Ministro Antônio Pallocci, durante o caso Mensalão, no governo Lula, e durante a crise do caseiro Francenildo - que acabou derrubando o poderoso Ministro da Fazenda, não teria sido dificil para ele, averiguar, profundamente, a vida do ex-delegado Cláudio Guerra e conhecer seu passado nebuloso.
Quanto ao outro jornalista, Rogério Medeiros, nem precisava de muito esforço - conhecia muitos os crimes do "arrependido"
... "há mais de três décadas, o jornalista Rogério Medeiros, então repórter do Jornal do Brasil, desvelou em uma reportagem a verdade sobre o ex-delegado Cláudio Guerra. Medeiros esclareceu que Guerra não era combatente da criminalidade no Espírito Santo, mas sim o autor de pelo menos 35 execuções sequenciadas de queima de arquivo. “A reportagem causou um efeito devastador à imagem de Guerra. Ele passou da condição de defensor da sociedade capixaba a chefe do crime organizado”, afirma Medeiros.( SéculoDiario .com)
A reportagem ajudou a pôr o temido delegado atrás das grades.
O "nhenhenhém" vai continuar até o livro chegar às livrarias e poder ser estudado nas entrelinhas com profundidade. Por enquanto, não passa de sensacionalismo de alguns jornais, e de elocubrações de muita gente, inclusive nossa, que não entendemos porque entra nesse fictício almoço o cel Juarez , que jamais foi de um DOI, ou de um Dops.
Para conhecerem melhor a história de vida do ex-delegado e atual "arrependido" pastor Cláudio Guerra, leiam abaixo sua ficha criminal, publicada em vários jornais:
"Acusado de atentado e homicídios
Bruno Dalvi - O Globo - 03/05/2012
VITÓRIA. Ex-delegado do Dops e da Polícia Civil do Espírito Santo, Cláudio Guerra, de 71 anos, é acusado de tortura, homicídios, formação de quadrilha, tráfico de drogas, roubo de armas, de chefiar grupos de extermínio, e de estar envolvido em desvio de dízimo de uma igreja evangélica. Guerra tem pelo menos duas condenações por assassinato. Ao cumprir pena num presídio capixaba, ele disse ter "encontrado Jesus" e se tornou pastor da igreja Assembleia de Deus.
O ex-delegado foi condenado a 42 anos de prisão, em regime fechado, por um atentado a bomba, ocorrido em agosto de 1982, no centro de Vitória. Guerra ficou preso 10 anos e conseguiu a liberdade. O atentado mutilou o bicheiro Jonathas Bulamarques e feriu as irmãs Denise Gava e Déia Gava. Guerra também responde a processo pelos assassinatos da própria mulher, Rosa Maria Cleto, e da cunhada, Glória Maria Cleto, em 1980.
Os corpos foram achados num lixão, em Cariacica, na Grande Vitória. Rosa levou 19 tiros e Glória, 11. Foi condenado a 18 anos, mas o caso aguarda decisão final do Tribunal de Justiça do Espírito Santo."
A respeito do crematório em uma Usina, no norte do Estado do Rio, é inconcebível. Imaginem um sujeito matar uma pessoa em São Paulo, ou como diz ,em uma "casa da morte", que os jornais afirmam ter existido em Petrópolis, carregar o corpo por via rodovária, passando por barreiras policiais, podendo acontecer um acidente e o corpo aparecer. Além disso , segundo os jornais, o proprietário da Usina já faleceu e a filha, que o sucedeu, nega que isto tenha ocorrido.
Afinal pergunto: por que ele não levou os corpos de sua esposa e de sua cunhada para queimá-los na Usina e preferiu jogá-los num lixão?
Será que as incinerações a que ele se refere não são algumas das 35 vítimas que seu grupo de extermínio executou?
O Cel Ustra só espera ler o livro para entrar com uma ação na Justiça contra este ex-delegado. Ele terá que provar ,na Justiça, o que afirma em seu livro.
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Desmentindo a versão do ex-delegado vejam o que é dito por Percival de Souza , em autópsia do Medo, livro de sua autoria, sobre a morte do Dr Fleury:
Mas o relato, segundo o jornalista Percival de Souza, comentarista da TV Record e autor da biografia de Fleury (“Autópsia do Medo”, publicado pela editora Globo em 2000), não tem “sentido algum”. “Isso é totalmente inverossímil.”
Para ele, a versão da pedrada é “ridícula”. “Não havia nada na testa, na fronte, no rosto. Nada.” Na hora do acidente, lembra o jornalista, Fleury estava com a mulher. Tinha bebido demais antes de cair da lancha, conforme o inquérito ao qual teve acesso. “Na época todo mundo ficou com esse grilo. Quando soube da morte dele, a primeira coisa que me perguntei foi: ‘quem matou?’. Mas eu vi o inquérito sobre a morte dele, que ninguém tinha visto. Falei com o delegado de polícia (responsável pelo caso), e ele explicou o porquê de não ter havido a autopsia: ninguém queria traumatizar a família. Também falei com o marinheiro que o resgatou ainda com vida. Os cães do Fleury foram ao local, e olharam tudo. Todo mundo da equipe dele investigou. Ele estava no esplendor do poder na polícia.”
No livro recém-editado, Guerra aponta o nome dos militares que teriam comandado a operação para matar Fleury, entre eles o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, do Doi-Codi – recém-denunciado por crimes cometidos na ditadura. O biógrafo de Fleury afirma que o delegado era próximo da maioria dos agentes.
“Ele (Fleury) sempre foi um fiel vassalo do sistema. Não havia razão alguma para desconfiar de nada. Era super relacionado no Exército, na Marinha, na Aeronáutica. Não tinha como considerá-lo um inimigo em potencial. Se ele revelasse algo, seria incriminado por ele mesmo”.
Souza completa: “Quando o Fleury morreu, ele era diretor do Deic e o Erasmo Dias, de quem o Fleury era um vassalo, era o secretário de Segurança. Se tivesse arsênico, pedrada, o Erasmo iria mover mundos e fundos para descobrir. Foi ele o responsável pela carreira meteórica do Fleury na policia. Estavam em sintonia”.
Prova disso, completa o jornalista, é que todas as vezes que Fleury respondia a processo por suposto uso da força, ele listava como testemunhas os próprios oficiais das Forças Armadas. “A ligação era muito grande entre ele e todo o sistema. Isso não tem sentido.”
O biografo diz desconfiar também da participação de um delegado do Dops do Espírito Santo na história. “O Dops do Espirito Santo não tinha expressão alguma, nada, zero, nulo. Para meu livro, entrevistei 117 pessoas que considerava fundamentais. E só agora estou ouvindo falar nesse Cláudio Guerra.”
Cautela
Procurada após a reportagem, a procuradora da República Eugênia Fávero, uma das responsáveis pelas investigações sobre crimes da ditadura em São Paulo, afirma ter recebido com “cautela” o depoimento ao livro. Os relatos, diz, diferem das versões já levantadas pelo MPF mas, segundo ela, não são inverossímeis e devem ser levados em conta nas apurações feitas a partir de agora.
“Mas é ainda algo difícil de dizer porque não lemos ainda este relato”, afirma.
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