Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
“Estaremos sempre solidários com aqueles que, na hora da agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever de se oporem a agitadores e terroristas, de armas na mão, para que a nação não fosse levada à anarquia!” Gen Ex Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, Ministro do Exército (Brasília - 31 de março de 1981)
Por José Gobbo Ferreira
Em 17 de abril de 1996, uma tropa da Polícia Militar do Pará, constituída por membros do 4o Batalhão, de Marabá, comandados pelo Cel. Pantoja e da Companhia de Policiamento de Parauapebas, sob o comando do Maj. Oliveira cumpria a ordem de desobstruir a rodovia PA-150, ocupada por baderneiros do MST, quando uma turba de jagunços, brandindo porretes e foices, usando pelo menos uma arma de fogo e lançando paus e pedras, avançou contra ela.
A tropa se defendeu do ataque com as armas de que dispunha. Ao final do conflito, 19 civis estavam mortos e mais de 100 feridos. O incidente foi registrado em vídeo e recebeu o sugestivo nome de “Massacre de Carajás” (http://www.youtube.com/watch?
Embora o vídeo não deixe nenhuma dúvida de que durante o entrevero os soldados estavam na realidade defendendo suas próprias vidas (eu faria o mesmo), militantes ensandecidos levantaram as vozes crucificando os policiais. Políticos populistas, intelectuais enfurecidos, juízes e promotores, nos sofás de seus confortáveis gabinetes com ar condicionado e vistas aprazíveis, procuraram na letra fria dos códigos as maneiras “legais” para condenar aqueles que, nas agruras do terreno e no calor das circu nstâncias, tentavam cumprir com seu dever. E acharam!
A chamada sociedade civil, covarde, calada e abúlica, quando muito murmurando entre dentes contra as ações predatórias do bando de celerados do MST, mais uma vez virou as costas para aqueles que, malgrado todas as deficiências, próprias e do sistema, tentavam defendê-la do caos
.Embora os comandantes da operação tenham agido no sentido de preservar a vida de seus soldados, dever primeiro de qualquer oficial, os autos do processo dizem que “os manifestantes foram cercados pelos policiais, que atiraram a queima-roupa”. Eles foram condenados pela justiça do Pará e, na segunda feira 7 de maio passado tiveram decretado seu recolhimento ao cárcere, onde devem permanecer por, no mínimo, 43 anos o coronel e 25 o major.
Em um encadeamento sinistro e significativo, três dias depois, no dia 10 de maio, a excelentíssima senhora presidente da República tornou púb lica sua escolha dos membros da chamada “comissão da verdade”, que se propõe a descobrir uma verdade ainda não bem definida, sobre fatos ocorridos em um passado também ainda não definido. Uns dizem que será de 1946 a 1988. Outros entendem que deve se limitar ao período entre 1964 e 1988. Todos, porém, estão de acordo em que as brutalidades e crimes cometidos em qualquer época por terroristas e guerrilheiros comunistas (entre os quais S.Excia. a presidente se inclui) não fazem parte do conceito de verdade.
De acordo com o publicado na imprensa, “o grupo apontará, sem poder de punir, responsáveis por mortes, torturas e desaparecimentos na ditadura e vai funcionar por dois anos. Ao final deste prazo, a Comissão deverá elaborar um relatório em que detalhará as circunstâncias das violações investigadas”.
Aprendi que a vida, em suas diversas circunstâncias, nos obriga às vezes a engolir sapos. Nesse momento, devem os avaliar o tamanho do batráquio. Se for possível, e se evitar mal maior, podemos engoli-lo. Porém, chegará uma hora em que temos certeza que um deles não passará por nossa glote. A esse, usando a terminologia das falhas em material bélico, chamo de “sapo crítico”. Não devemos engoli-lo, embora por vezes tenhamos que suportá-lo por perto. Porém o sistema, indiferente à nossa recusa, pode nos enviar outro, maior ainda. Classifico esse como “sapo catastrófico”. Ele não só não pode ser jamais engolido, como deve ser esmagado prontamente.
No meu entender, a comissão da verdade, tal como instituída pelas forças no poder, já é o sapo crítico. Sugiro que os companheiros convocados se recusem a comparecer, até o limite de seus recursos legais. Se forem forçados a tal, que fiquem calados, pois a Constituição garante o direito de não testemunhar contra si próprio. Porque, seja qual for a ladainha dos membros da comissão, a frase cinematográfica dos policiais americanos é feita sob medida para situações como essa: “Você tem o direito de ficar calado. Porém, tudo o que disser pode ser e será usado contra você no tribunal”.
O cenário de Carajás se delineia de novo. A turba revanchista anseia por novos coronéis Pantoja e majores Oliveira. A sociedade, como lhe é de costume, já se esqueceu, ou nunca tomou conhecimento dos riscos a que esteve exposta e dos quais foi protegida pela luta de nossos companheiros, e dela muito pouco, ou nada, podemos esperar em nossa defesa. Só podemos contar com nossa união, que é nossa força. Se as manobras defensivas acima falharem, então estaremos face a face com o sapo catastrófico. É imperioso esmagá-lo, ainda que isso implique em abrir a caixa de Pandora neste país.
Soldados de ontem e de sempre! Nossos chefes do passado nos legaram o compromisso acima, que temos o sagrado dever de honrar. É hora d e nos mobilizarmos na defesa dos companheiros ameaçados, de nos prepararmos para os combates cujo ruído já pressentimos ao longe e de sustentar o fogo naqueles em que já estamos engajados. Nuvens negras se acumulam no horizonte e não há justificativa para que não nos preparemos para a tempestade, que pode cair ou não mas, caso caia, não pode nos surpreender ao relento.
Que Deus permita que a preparação para a luta justa nos infunda vigor ao espírito e não perturbe a paz em nossos corações de homens de bem.
PS: O foco deste trabalho é a comissão da verdade. Nada impede que o sapo catastrófico entre em cena ainda antes, em consequência da premeditada deterioração de nossa operacionalidade e do aviltamento de nossos soldos. As regras de engajamento permanecem as mesmas.
José Gobbo Ferreira é coronel do Exército e já está reformado.
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