Nas sociedades modernas e tão amplas ao ponto de jamais terem sido imaginadas pelos pensadores gregos, os maiores agressores à vida do Homem e aos demais valores necessários para mantê-la são os próprios governos, ainda que, paradoxalmente, tenham sido criados para amparar tais valores.
Aristóteles, na obra "Ética a Nicômaco", falando sobre a criação da Natureza, cita que: "É impossível para uma pedra, que tem um movimento natural para baixo, conseguir reverter esse movimento, passando a se movimentar para cima, mesmo se alguém tentar dez mil vezes inculcar esse hábito nela; nem fazer o fogo se movimentar para baixo, ou se mudar a direção de qualquer ente, atribuída pela natureza..."
A Natureza fascina. Conservo uma Samambaia entre duas janelas e costumo brincar, trocá-la de foco, fechando um dos lados e abrindo o outro, para vê-la mover seus ramos, paulatinamente, em direção ao lado com maior luz. A ação dela é sempre a mesma! Está amarrada a um código da Natureza que a obriga a escolher a claridade para se manter viva. Trata-se de uma ação pré-programada, agendada a guisa de trabalho, que ela tem que obedecer como uma escrava. Aliás, mais do que isso. Uma escrava pode recusar a fazer algo, decidindo, inclusive, a não viver, mas isso também é impossível para a minha Samambaia fazer por contra própria. Claro, se um obstáculo a impedir de fabricar o seu alimento básico - a glicose - cuja matéria-prima é a luz solar, a água e o dióxido de carbono, coletado pelas raízes e ramos, ela morre.
Com o animal não-humano não é diferente. A Natureza também lhe deu uma vida para proteger e cuidar. Não lhe impôs limites mecânicos, como fez com os vegetais, mas lhe deixou para sempre dois mestres, o prazer e a dor, e um potente órgão sensitivo que o avisa dos perigos iminentes ou da sede e fome, induzindo-o a fugir ou reagir, a beber água ou a caçar, mas cada ação não vai além da água ou da 'presa à boca', sem quaisquer provisões para o futuro. A Natureza, semelhante à minha Samambaia, também o proibiu de se suicidar: diferente do Homem, ele é o único animal que não atenta contra a vida.
Intriga a Natureza não ter imposto nenhum limite mecânico ao Homem. Deixou-o livre para escolher os valores que vão ajudá-lo na proteção da vida e no trabalho de mantê-la. Mas logo se compreende a razão dessa liberdade. Condicionou-o, semelhantemente aos animais não-humanos, ao prazer e a dor, e incutiu nele uma poderosa consciência, com capacidade para adquirir conhecimento ilimitado. Muniu-o com um sistema mental complexo, em que os sentidos captam as imagens e informações que se transformam em conceitos guardados na memória, para que a razão analise e acione a ação, sempre com vistas a sair de uma situação menos favorável para outra mais favorável. Trabalha, poupa, investe em métodos longos de produção, faz plano, minimiza os riscos da falta de matérias-primas, insumos e bens e serviços, base do seu sustento e prazer.
O Homem não precisaria de um guia ou código de ética para orientar as suas escolhas e ações. Mas a Natureza criou uns diferentes dos outros em inteligência e produtividade e isso, não raro, costuma acionar a inveja e a cobiça. Ademais, há a possibilidade de a Natureza ter ultrapassando os seus próprios limites naturais, quando fez o Homem à semelhança de Deus e do animal, como nos afirma Heráclito. O Homem animal, junto com a cobiça são fulcros de ações agressivas contra a vida e o patrimônio de outro Homem, condenadas assim por Ayn Rand: "Nenhum homem - ou grupo, sociedade ou governo - pode iniciar o uso da força contra outro homem, a não ser em retaliação a quem a iniciou... ou obter qualquer valor de outro recorrendo à força".
Nas sociedades modernas e tão amplas ao ponto de jamais terem sido imaginadas pelos pensadores gregos, os maiores agressores à vida do Homem e aos demais valores necessários para mantê-la são os próprios governos, ainda que, paradoxalmente, tenham sido criados para amparar tais valores. Como os Senhores da Guerra e do Imposto, ceifam vidas, expropriam os valores obtidos com o trabalho e desestimulam a criatividade humana.
São condições que exigem a proteção de um guia ético para o Homem, semelhante ao da minha Samambaia, em que o Mal é tudo aquilo que atente contra a sua vida e o seu trabalho na busca da luz, da água e do ar, necessários para ela produzir o seu alimento básico, a glicose. O Bem é tudo que contribua positivamente com a vida dela e dos meios utilizados para mantê-la. Com o Homem não é diferente. Um código de ética para ele também tem que vincular o Bem ao engrandecimento da sua vida e dos frutos do seu trabalho. E o Mal a tudo que afetar negativamente esses valores morais básicos: vida e trabalho. Tanto para a minha Samambaia quanto para o Homem, o Mal pode levá-los à extinção...
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