Há
exatamente 10 anos, quando era presidente do MNP – Movimento
Nacional de Produtores, no dia 24 de Maio de 2002, escrevi um texto
mostrando o que estava por detrás das invasões de terra no país.
Como
elas continuaram, apesar de agora em menor escala e utilizando como
massa de manobra principalmente as populações indígenas, penso que
o mesmo continua atual e resolvi republicá-lo, numa versão
revisada.
A
Reforma Agrária Brasileira -
Ao
discorrer sobre nossa posição frente à reforma agrária
brasileira, antes de qualquer coisa devemos dizer que, como cidadãos
brasileiros, queremos e exigimos que a lei seja cumprida.
Invasões,
saques, assassinatos, abate de gado, bloqueio de rodovias, destruição
de propriedades particulares e de prédios públicos não são
manifestações, são crimes e assim devem ser tratados.
O
não cumprimento pelo Poder Executivo de mandados de reintegração
de posse expedidos pelo Poder Judiciário também é crime e ameaça
a democracia, em virtude de provocar o desequilíbrio entre os
poderes legalmente constituídos.
Em
nosso estado, Mato Grosso do Sul, temos hoje, 24/05/2002, seis
mandados de reintegração de posse não cumpridos, sendo 01 desde
1999, 01 desde 2000, 03 de 2001 e 01 de 2002.
Num
país democrático, isso é inconcebível, pois a lei existe para ser
cumprida e se não se conseguiu cumpri-la através de negociações
depois de três anos de tentativas, cumpra-se até com o uso da
força, se necessário, mas cumpra-se, pois três anos é tempo
demasiado longo para qualquer cidadão receber o amparo legal que lhe
é devido, principalmente com seu imóvel invadido.
A
Constituição Brasileira prevê a reforma agrária no país, e por
este motivo a mesma deve ser executada, mas como nela prevista.
Existem
diversas maneiras de fazer isso dentro da lei, entretanto, soluções
eficazes são desprezadas ou não interessam às chamadas
“lideranças”.
Muitos
exemplos de como fazer isso pacifica e ordeiramente podem ser dados,
como a reforma agrária através do Banco da Terra, projeto apoiado
integralmente por todos os produtores rurais sensatos do país.
O
projeto do governo federal onde os interessados fazem sua inscrição
pelos correios e a partir daí passam por uma triagem de seleção de
acordo com sua vocação também é uma boa opção.
Diversos
projetos sérios, de quem procura realmente resolver os problemas
agrários e querem a fixação do homem ao campo são apresentados
Brasil afora, como o excelente trabalho do Dr. Paulo César de
Figueiredo, digníssimo Juiz de Direito de Três Lagoas – MS, “Uma
Terceira Via à Reforma Agrária: O Arrendamento Social Rural”.
Pequenas
áreas públicas próximas aos centros urbanos, com uma estrutura
mínima de saúde, educação e habitação poderiam ser criadas e
usadas como “acampamentos provisórios”, até que as famílias
que ali estivessem pudessem ser definitivamente assentadas.
Isso
evitaria que estas famílias fossem expostas por suas “lideranças”
a acampamentos às margens das rodovias, geralmente em condições
subumanas, exclusivamente para servirem de vitrine a quem por ali
passa, esperando com isto conseguir apoio da opinião pública.
Por
outro lado, o custo médio total de um assentamento é de R$
40.000,00 (quarenta mil reais) por família assentada. Isso se a
família conseguir sobreviver com a renda proveniente desta área
após o primeiro ano, o que não acontece, demandando um grande
debate sobre a eficácia social deste projeto, uma vez que a grande
maioria de nossa sociedade desconhece estes custos e afinal é esta
sociedade quem paga a conta.
A
instalação de estruturas nos assentamentos é muito complexa, em
virtude das distâncias entre as residências, o que encarece em
demasia a instalação de redes de água, luz, esgoto, etc. para
estas famílias, coisa que o país ainda não conseguiu realizar
sequer para a maioria de sua população urbana.
Pelo
mesmo motivo, a educação acaba tendo um custo elevado em transporte
para que os alunos residentes nos assentamentos possam chegar até a
escola municipal mais próxima.
Sem
escolas para os filhos dos assentados, na próxima geração teremos
mais cinco “sem terra” por família assentada hoje, uma vez que
este é o número médio de filhos do assentado no país, e assim
sucessivamente, a cada geração, num processo sem fim e com enormes
custos para a economia do país.
Além
de todas estas dificuldades, devemos observar que a agropecuária
moderna exige cada vez mais tecnologia e menos mão de obra para que
possamos competir em um mercado globalizado, que é irreversível.
As
máquinas para o trabalho no campo também são cada vez maiores,
mais eficientes e mais caras, o que torna inviável sua aquisição
para pequenas áreas, excluindo assim, automaticamente, essas
pequenas propriedades de qualquer possibilidade de modernização.
Assim
sendo, as áreas hoje destinadas à reforma agrária da maneira como
estão sendo implantadas estão destinadas ao insucesso financeiro no
mundo globalizado, podendo ser utilizadas exclusivamente para a
agricultura de subsistência.
E
essa agricultura de subsistência trará um grande problema econômico
aos municípios onde estiver localizada, pois como o nome diz, sendo
de subsistência para a família assentada, não gerará empregos nem
excedentes de produção para exportação e, em consequência, não
gerará impostos.
Ora,
se não gerar empregos, não gerar impostos e, além disso, cobrar do
município educação, saúde, transporte, etc., qualquer economia
municipal será inviabilizada.
Depois
de 25 anos vivendo intensamente o assunto, primeiramente em
Presidente Prudente – SP, onde fui criado, e nos últimos cinco
anos trabalhando diariamente sobre o tema na entidade que aqui
represento, posso declarar textualmente que o que as lideranças dos
grupos chamados “Sem Terra” querem não é e nunca foi a reforma
agrária.
Uma
verdadeira solução para os problemas do homem do campo, geralmente
sem estudo e que por este motivo não consegue colocação digna para
sua sobrevivência no meio urbano, precisando assim permanecer longe
das cidades e do conforto por elas propiciado, não interessa muito
às chamadas “lideranças”.
O
real interesse dessas pessoas que usam e abusam desta massa de
manobra humilde e desinformada é e sempre foi a tomada do poder e a
mudança do regime político no país.
Observem
que as principais usinas hidrelétricas, hidrovias, ferrovias,
rodovias, aeroportos, indústrias, universidades, além das
principais redes de telefonia e de transmissão de energia elétrica
do país estão localizadas dentro de um raio de 500 Km em torno de
Presidente Prudente – SP, como mostram os mapas:
Esta
região também concentra mais de 90% (noventa por cento) das
invasões de terra no país.
Coincidência?
Não, além de procurarem invadir propriedades somente nos locais com
a maior infraestrutura existente no país, esta é uma estratégia,
estratégia de guerra, de guerrilha.
Vejamos
agora trechos da cartilha utilizada nos cinco “Cursos de
Capacitação de Militantes de Base do Cone Sul” já realizados em
nosso estado, sempre dentro de estabelecimentos da igreja católica,
que está e sempre esteve por trás destes movimentos através da
Comissão Pastoral da Terra – CPT, fornecendo aos movimentos
inclusive seus líderes, como o Sr. João Pedro Stédile, maior
liderança do MST, que teve sua formação inicial em seminários
católicos:
“… ocupação
de espaços deixa de ser uma ação oportunista, para transformar-se
em uma atitude revolucionária”.
Mapa
Energético do país:
“… projeto
nacional, que se contraponha ao projeto globalizador, formule novas
táticas para desenvolver a luta de classes no país e termine com a
ilusão democrata social”.
“Todas
as leis, decretos e medidas provisórias devem ser contestadas pela
sociedade…”.
“A
população deve acostumar-se a ser desobediente…”.
“… dirigir
o processo revolucionário…”.
“… envolvam
toda a sociedade em lutas de massas…”.
“… para
que este grande movimento social possa realizar a revolução…”.
“Nossa
tarefa é colocar no centro da luta a Reforma Agrária… como
objetivo estratégico”.
“… direção
correta e revolucionária para o processo de luta…”.
“… criação
de numerosos movimentos de massas…”.
“O
socialismo é uma grande causa, vale a pena morrer por ele…”.
“As
prefeituras podem ter influência dos assentados nos municípios do
interior…”.
“… escolas,
faculdades e igrejas. Além destes espaços contribuírem para
desenvolver o MST, como por exemplo a igreja através de suas
pastorais…”.
O
que esperamos, como todo brasileiro que deseja um país melhor, mais
humano, com menor desigualdade social, com melhor distribuição de
riquezas e com maior oportunidade para todos é, antes de qualquer
coisa, um país que cumpra as leis.
Não
queremos uma nova Colômbia, com irmãos se destruindo em uma batalha
que começou exatamente assim, com uma proposta de reforma agrária,
mas que teve suas lideranças se associando com narcotraficantes e
hoje está muito próxima de uma guerra civil.
Para
que possamos atingir esses objetivos, são propostas do Movimento
Nacional de Produtores – MNP:
Levantamento
total da quantidade de recursos já utilizados neste programa de
reforma agrária, objetivando uma ampla discussão com a sociedade,
se os mesmos recursos não seriam melhor aproveitados investidos em
saúde, educação e construção civil, por exemplo.
Investimento
em uma política agrícola eficiente, que mantenha o pequeno
agricultor no campo, pois enquanto o governo federal diz haver
assentado 280.000 famílias, dados oficiais mostravam que 400.000
pequenos agricultores haviam deixado o campo por falta de uma
política agrícola condizente com suas necessidades.
Investimentos
maciços na construção civil, que além de suprir a carência
habitacional existente no país absorveria grande parte da mão de
obra menos qualificada.
Investimento
maciço no ensino fundamental do homem do campo, proporcionando assim
condições para que o mesmo tenha outras possibilidades de emprego.
Investimentos
na capacitação e atualização do homem do campo, proporcionando,
assim, condições para que o mesmo tenha outras possibilidades de
emprego.
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