O Brasil realizou a maior reforma agrária do mundo. De 1994 a 2011 foram assentadas no País 1.176.813 famílias, distribuídas numa área de 88 milhões de hectares. Entretanto, ninguém sabe o que produzem!
Por
Gregorio Vivanco Lopes
No
final da década de 1950 e início da seguinte o grande programa das
esquerdas era realizar a Reforma Agrária, tida como passo necessário
para implantação da sociedade social-comunista.
Evitando
desvendar essa sua finalidade última, com receio da rejeição
maciça da opinião pública, as esquerdas apresentavam como pretexto
para suas pretensões agro-reformistas o bem dos pobres. Dividindo os
grandes latifúndios em propriedades pequenas – assentamentos –
seriam beneficiados inúmeros agricultores que, coitados, não tinham
um pedaço de terra para plantar.
A
falácia dessa argumentação foi denunciada na ocasião por Plinio
Corrêa de Oliveira em numerosos livros, manifestos, artigos,
campanhas, entrevistas. E isto de tal modo, que a Reforma Agrária
perdeu seu feitiço inicial e acabou por ser vista como aquilo que de
fato ela é, e sempre foi: uma imposição do Estado de tendência
socialista. Além de ser propulsionada por uma esquerda de origem
eclesiástica, a chamada “esquerda católica”, representada pela
Pastoral da Terra, ligada à CNBB, e coadjuvada por movimentos ditos
“sociais”, como o MST e congêneres.
Tal
imposição visava à demolição da propriedade privada –
fundamentada em dois Mandamentos da Lei de Deus: não roubarás e não
cobiçarás as coisas alheias – que juntamente com a família e a
tradição constitui a base da civilização cristã.
Os
anos correram, a esquerda tomou o poder no Brasil, tocou para frente,
o quanto pôde, a Reforma Agrária, mas já destituída de seu
feitiço inicial. Sem esse feitiço, ela passou a ser analisada
segundo seus resultados práticos e estes se demonstraram
desastrosos.
A
esse quadro juntou-se um novo elemento, capital. A revolução
socialista e igualitária mundial mudou de cor, passou do vermelho
para o verde. A palavra de ordem para acabar com a propriedade
privada deixou de ser a Reforma Agrária e passou a ser o ecologismo.
Fiéis à batuta do novo maestro, todos os antigos socialistas
sofregamente passaram a dizer-se ecologistas. Assim o ex-Frei Boff, o
atual Frei Betto e tantos outros da mesma escola.
Resultado:
a Reforma Agrária passou para um segundo plano nas metas da esquerda
e até ficou bonito denunciar seu fracasso. Isso não exclui que o
MST continue vociferando, invadindo, ameaçando. Mas de semente do
futuro ele passou a ser um fantasma de ontem atuando no presente.
*
* *
Nesse
contexto, é interessante conhecer os dados que nos são apresentados
por um articulista insuspeito, pois foi presidente do INCRA, além de
secretário de Agricultura e do Meio Ambiente do Estado de São
Paulo. Trata-se do agrônomo Francisco Graziano Neto, vulgo Xico
Graziano, em artigo para o jornal O Estado de S. Paulo (17-4-12),
intitulado “Reforma Agrária de qualidade”.
Para
maior facilidade resumo abaixo alguns dos pontos principais do
artigo. Só os subtítulos são meus.
A
maior R.A. do mundo
O
Brasil realizou a maior reforma agrária do mundo. De 1994 a 2011,
mostra com exatidão o Incra, foram assentadas no País 1.176.813
famílias, distribuídas numa área de 88 milhões de hectares. Para
aquilatar a grandeza dos números basta citar que existem em São
Paulo 227 mil estabelecimentos agropecuários (IBGE, 2006),
explorando 16,7 milhões de hectares. Conclusão: a reforma agrária
brasileira já é cinco vezes maior que a agricultura paulista.
A
área distribuída nos assentamentos rurais do Brasil excede a
própria área cultivada do País, de 70 milhões de hectares
(excluindo pastagens). A França explora 30 milhões de hectares.
Favelas
rurais
Se
houvesse um ranking mundial da reforma agrária, o Brasil certamente
o lideraria. Na dimensão. Porque na eficácia ocuparia os
derradeiros lugares. Aqui mora o problema. A qualidade dos
assentamentos rurais configura um fracasso na política pública.
Fora as exceções de praxe, verdadeiras favelas rurais se espalharam
pelo País.
Uma
criteriosa pesquisa realizada pelo Incra (2010) coletou informações
básicas sobre modo de vida, produção e renda das famílias
assentadas. Questionários foram respondidos por uma amostra de
16.153 beneficiários, envolvendo 1.164 projetos de reforma agrária.
Só 32,6% das moradias contam com iluminação elétrica regular, em
57% dos lotes as estradas de acesso são péssimas ou ruins, a saúde
pública mal chega a 56% das famílias. Na média.
Dependem
totalmente do Estado para sobreviver
O
relaxo, ou incapacidade, do governo em amparar os novos produtores,
aliado à inaptidão da maioria das famílias assentadas, se reflete
nos rendimentos. No Ceará 70% dos assentados auferem uma renda total
mensal que não ultrapassa dois salários mínimos. Com um agravante:
44% do ganho familiar advêm dos benefícios sociais do governo.
Tragédia rural nordestina.
Não
há produção
Nada,
entretanto, mais surpreende o estudioso que descobrir o buraco negro
da reforma agrária: ninguém sabe qual a produção agropecuária
oriunda dos assentamentos. Por incrível que pareça, inexiste
estatística agregada sobre o volume de grãos, das frutas ou dos
rebanhos capaz de determinar sua contribuição à safra agrícola
nacional. Parece mentira.
Faltam
dados governamentais, de campo, que permitam avaliar o resultado
produtivo da reforma agrária. Análise de custo/benefício nunca foi
o forte do agrarismo populista, como se o simples acesso à terra
fosse um passaporte para a felicidade eterna.
Mais
que girar a rosca sem-fim importa garantir qualidade produtiva à
reforma agrária.
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Diante
desse quadro, não estranha que grande parte dos assentados, logo que
pode, vende os lotes por qualquer preço. Tudo é lucro. Outros que
não conseguem vender, simplesmente os abandonam. E até os
oportunistas que procuravam o MST para ganhar um pedaço de terra na
marra vão rareando. Ademais, muita gente vai abrindo os olhos e não
quer mais saber de invasões nem de demagogia barata.
É
o que lamenta o principal líder do MST, o marxista João Pedro
Stédile. Em entrevista ao mesmo diário acima citado (16-4-12),
quando perguntado sobre a dificuldade do MST de mobilizar pessoas,
respondeu: “Estamos ainda num período histórico de descenso do
movimento de massas e da falta de mudanças estruturais. E é isso
que afeta as mobilizações no campo, e também na cidade. A ultima
greve geral foi em 1988”.
Diante
desse fracasso evidente da Reforma Agrária, outrora apresentada,
sobretudo pela “esquerda católica”, como panacéia universal
para todos os males do Brasil, não se pode deixar de prestar
homenagem ao homem que, desde o princípio, viu a fundo o problema e
o denunciou de público: Plínio Corrêa de Oliveira. A ele, muito
deve o Brasil.
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